terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Pode escrever-se um poema com basalto
com pedra negra e vinha sobre a lava
com incenso mistérios criptomérias
e um grande Pico dentro da palavra.

Ou talvez com gaivotas e cigarros
cigarras do silêncio que se trilha
sílaba a sílaba até ao poema que está escrito
lá em cima no Pico sobre a ilha.

Manuel Alegre

Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde desde muito cedo se empenhou em lutas académicas e na resistência ao regime político da época. Mandado para Angola em 1961, incentivou uma revolta militar contra a guerra colonial, acabando por se exilar em Argel no verão de 1964.
Durante o exílio, foi dirigente da FPLN e participou activamente na Rádio Voz da Liberdade, tendo regressado a Portugal depois da revolução de abril de 1974. A partir de então, dedicou-se à actividade política partidária, continuando, porém, a obra literária iniciada com o livro Praça da Canção (1965).

2 comentários:

Anónimo disse...

Um dos maiores poetas portugueses, muitas vezes esquecido nesse domínio por causa da política...

Uma cabeça que pensa por si e que gosta pouco (ou nada) de ser arrastado para a "maioria".

Um grande Senhor.

JAJ disse...

Flores para Coimbra

Que mil flores desabrochem. Que mil flores
(outras nenhumas) onde amores fenecem
que mil flores floresçam onde só dores
florescem.

Que mil flores desabrochem. Que mil espadas
(outras nenhumas não)
onde mil flores com espadas são cortadas
que mil espadas floresçam em cada mão.

Que mil espadas floresçam
onde só penas são.
Antes que amores feneçam
que mil flores desabrochem. E outras nenhumas não.

Manuel Alegre