sábado, 26 de fevereiro de 2011

Portugal é o país em bancarrota com a melhor execução orçamental de sempre

Os dados da execução orçamental de Janeiro divulgados pela Direcção-geral do Orçamento combinados com as taxas de juro dos títulos de dívida pública portuguesa fazem de Portugal um caso de estudo que já está a ser analisado e comentado por especialistas.

“Nenhum país em bancarrota conseguiu um corte de 31 por cento no défice do Estado e uma redução de 58 por cento no défice da administração central. A excepção é Portugal. A Inglaterra está com uma execução orçamental fantástica ao ponto de ter um excedente comercial, mas não está em bancarrota. Por isso, parabéns Sócrates por mais este feito inédito”, elogiou Angela Merkel.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ao Povo do Pico

Foto de Q. Nené via Porto da Madalena

Que povo é este
que povo,
que a terra desbravou,
ao luar acartou
e o maroiço nasceu.
Monumentos de pedra ergueu
este povo,
e com o suor do seu rosto
os batizou.
Que povo é este
que povo,
que a fúria do vulcão
enfrentou,
e não arredou pé
e aqui ficou.
Que povo é este
que povo,
que o mar enraivecido,
domou,
e de arpão em punho
buscou,
o pão de cada dia
e o amassou,
na dor e na alegria.
Que povo é este
que povo,
destemido e valente,
nobre e caracter,
que do caminho certo
não se afasta,
que nem por carta
nem por escrito...
pois a palavra basta
ao valoroso Povo do Pico

M. M. in Ilha Maior de 4 de Fevereiro de 2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

3 anos e 100.000 visitas após

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
F Pessoa

Foto de Marco Peixoto
O Basalto Negro fez três anos no passado dia 10 de Janeiro.
Iniciou a actividade em 2008, em plena web2, a tal em que o utilizador é simultaneamente o produtor de conteúdos.

Multiplicavam-se os blogs, o youtube, MSN, os fóruns temáticos e mais tarde o facebook e as redes sociais.

A conceituada revista Time elegia como personalidade do ano: “you”.
Em Espanha convocavam-se manifestações por mensagens de telemóvel.

Por cá, tropeço acidentalmente na blogosfera picoense e fico admirado com a profusão de blogs e comentadores. Diagnosticam-se problemas e propõem-se soluções.
No calor da discussão, detectam-se alguns comentários inconvenientes. Nada, no entanto, que seja estranho a este tipo de discussões.

Insurgem-se vozes contra o modelo de transporte aéreo, a discriminação das ilhas de coesão, a saúde, o envelhecimento da população, o ILS, as luzes da pista, a falta de combustíveis no aeroporto e o plano e orçamento para a ilha.

Penso então, ingenuamente, que a net poderia ser uma ferramenta útil na congregação de opiniões dos muitos lagenses e/ou picoenses, espalhados pelos quatro cantos do mundo, que se especializaram em variadas áreas do saber e que são muito pródigos nas tertúlias de verão.

Decido, então dar a minha opinião e escrever umas linhas.

Pensei que esgotaria esta discussão em meia dúzia de posts, mas admito que me enganei redondamente.

Na verdade, esvaziada a discussão, pensava dedicar o blog à biologia.
Nomeadamente ao quelónio caretta caretta, espécie que aparece cá nos Açores e está em extinção.
Para quem desconhece, a caretta é nos muito útil pois come medusas (águas vivas) que não nos dão descanso no verão. Além disso, uma espécie duas vezes caretta enquadrava-se bem no desígnio do blog.

Pelo meio, defenderia o surgimento de uma terceira representação política pelo Pico na Assembleia, pois detectava que apenas dois representantes opinavam regularmente na imprensa local.
Interrogava-me se os restantes não se limitariam a pavonearem-se pelos corredores dos partidos.

Também pretendia esforçar-me na promoção desses locais de grande biodiversidade dos Açores que são as zonas húmidas. Aproveito para lembrar que o Dia Mundial da zona húmida foi comemorado no passado dia 2 de Fevereiro.

Na realidade, as nossas zonas húmidas não são tão ricas com as do continente, mas lá por isso não devem ser desprezadas.
Até porque sempre são as nossas zonas húmidas.
E até me interrogo se a muita bicharada que eles por lá têm não acabará também por incomodar.
Isto digo eu, que não sou especialista na matéria.
Penso também que esta distribuição assimétrica da bicharada (os continentais com muito e nós com pouco) se deve às zonas húmidas do continente ocorrerem frequentemente nas partes baixas, como os estuários.
Enquanto que as zonas húmidas do Pico ocorrerem preferencialmente nas partes altas, como o Planalto da Achada.

Faço aqui um parêntesis para dizer que o Pico ganhava se nos comparássemos mais frequentemente com ilhas da nossa dimensão. Isto uniria os picoenses, assim como nos tornaria mais ambiciosos.

Enfim, mas o certo é que, por enquanto, as caretas e as zonas húmidas, ou então as caretas nas zonas húmidas - lembrei-me agora - foram preteridas no blog pelos temas já referidos e ficaram para as calendas. Se adiantou alguma coisa ou não, na verdade não sei…

Se bem que alguns posts foram debitados em discurso na Assembleia, o que pode ser entendido como um louvor.
Para alguns, é claro.
Enquanto para outros terá sido um deslouvor, reconhecendo aqui que a opinião prévia do autor pouco interessa, ao que parece.

Deixem o Basalto ser um blog desalinhado.

Que temas tratarei no futuro e quanto tempo durará o blog? Na verdade não sei.
Aproveito também para esclarecer que o bordão “Na verdade não sei”, ocasionalmente repetido desde o primeiro post, foi plagiado aos Monty Python, pois pretendia que servisse de inspiração a este passatempo.
Por isso…

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é,
Sentir, sinta quem lê!

F. Pessoa

Deolinda que Parva que eu Sou


Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!

Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou!
Filhos, marido, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar,
Que parva que eu sou!
E fico a pensar
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Deolinda

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O que está errado em Portugal? Olhe para a classe política

Jorge Lacão, ministro dos Assuntos Parlamentares, defendeu no "DE" a redução do número de deputados de 230 para 180.
Salvé! A Esquerda acordou finalmente para uma ideia que anda a ser defendida há 20 anos.

Antes tarde que nunca, dirá o leitor. É verdade. Mas o problema é que Lacão, como a maioria dos políticos portugueses, não age (ou seja, não antecipa problemas). Reage (é comandado pelos acontecimentos). A sua declaração é uma reacção ao alheamento dos cidadãos da vida política, bem expresso nas últimas presidências (abstenção superior a 50%).

Mas foi preciso esperar pelas eleições para percebermos que o sistema tem de mudar? Não havia indicadores que davam conta disso (v.g. sondagens, fóruns dos meios de comunicação…) há muito tempo?

Lacão é a imagem de uma classe política incapaz de colocar o país à frente dos acontecimentos. Desde meados dos anos 90 que a Constituição permite reduzir o número de deputados para 180. Porque não se fez mais cedo? Porque a classe política vive fechada em si. E defende, além dos seus interesses, o dos principais lobbies da sociedade portuguesa. Só isso justifica que apenas em 2011 se mostre disposta a aceitar a redução de deputados (esquecendo a ideia dos círculos uninominais).

O que este episódio mostra é que os partidos estão a correr atrás do prejuízo: perceberam que têm de aplacar a ira de cidadãos fartos que lhes peçam sacrifícios, sem que a classe que os governa dê o exemplo (menos 50 deputados significaria, por alto, menos de 2,3 milhões de euros por ano). É por coisas como esta que somos pobres.