quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A saúde no Pico, segundo Albino T Garcia


Táxis da Horta

Diariamente passam-se coisas à nossa volta das quais só nos damos conta quando delas necessitamos. É o que acontece com o serviço de táxis no cais da Horta.

Toda a gente sabe que o movimento de táxis na cidade da Horta depende maioritariamente da deslocação de pessoas entre o Pico e o Faial. E, parecendo que não, ainda são muitos os motivos que levam todos os dias gente de cá para lá. É este o eterno fadário picaroto, de há muito assumido como um dever, que já quase ninguém questiona. Nem os líderes políticos locais, porque bem pagos e acomodados, estão para bulir com a resignação deste povo pacífico e entregue à sorte do destino.

Entre outras, há duas levas significativas de picarotos que inevitavelmente atravessam o Canal todos os dias: os viajantes com destino a Lisboa e os utentes do Hospital da Horta. (...)

Em cada manhã, logo à chegada do primeiro “Cruzeiro” do dia, é um jogo de sorte para encontrar táxi disponível no Cais da Horta. Mais fácil se torna para a maioria dos viajantes de longo curso que melhor se movimentam. Pegam as suas malas de viagem e, nas traseiras da gare marítima, vão tomando os táxis com destino ao aeroporto. Os doentes, sempre com mais dificuldades, chegam, muitas vezes, tarde e têm de seguir a pé até ao hospital. É um tormento para muitos mas não há alternativa. Ao sol ou à chuva, quantas vezes sofrendo graves indisposições, há que ir em frente para não chegar atrasado à consulta ou ao tratamento necessário que, não raro, é precedido de análise sanguínea. Normalmente vai-se em jejum, carregando dores e mágoas na subida difícil a que a má sorte obriga, porque não se pode perder tempo e tem de se fazer por voltar a casa no mesmo dia sem despesas nem contrariedades acrescidas. Vai-se em frente porque tem de ser. Somos do Pico e sempre nos ensinaram que gente do Pico não vira a cara a dificuldades.

Ninguém nos explica, porém, porque é que a gente do Pico não é bem gente como as outras gentes. Gente do Pico continua a ser como os meninos pobres de antigamente que viam os outros receberem prendas pelo Natal…

Os taxistas da Horta também sabem o que se passa e fazem pela vida. Para eles é fácil. Passageiro que desembarque do “Cruzeiro” sem mala de viagem tem por destino o hospital ou, quando muito, uma voltinha pela cidade. É cliente que não interessa. Os que se apresentam com bagagem rotulada dão frete certinho ao aeroporto. E, vai daí, os táxis entram na roda do Cais de Santa Cruz em movimento lento e vão parando junto dos clientes que se apresentam com bagagem para o aeroporto. Se lhes calha alguém de mãos vazias, ou apenas envelope radiográfico debaixo do braço, consideram-se ocupados e continuam na roda para encontrarem freguês destinado ao aeroporto. É uma roda sinistra e perversa dadas as circunstâncias e a evocação topohistórica do lugar. É como se a vida, o destino e o sistema se unissem contra quem já nada tem a seu favor.

Torna-se revoltante esta imagem dos táxis rodando e Manuel d’Arriaga no centro como polícia republicano que não actua nem autua… Exactamente como os polícias da Horta que não aparecem a moralizar e disciplinar este joguinho de interesses. (...)

Para um serviço de táxi, o percurso, do Cais de Santa Cruz ao Hospital da Horta, é curto. Porém, longo, muito longo e penoso para quem, nas piores condições, tem de fazê-lo a pé.

Sabemos que constitui ousadia gravosa propor que o Hospital da Horta assegure transporte para os doentes do Pico, não obstante ser esse o nosso hospital, o único que temos. Seria de mais conceder tal mercê a um picaroto. A isso chamariam os senhores do Faial um privilégio inadmissível.

E assim continuaremos padecendo dores, fome, birras, injustiças, maus tratos… pela vida fora. Até que um dia também nos reconheçam como gente semelhante a outra gente.

Albino Terra Garcia, Ilha Maior de 26 Setembro de 2008



Aconselho vivamente a leitura do artigo na íntegra. Só me resta acrescentar que, apesar de haver tantos transportes públicos gratuitos ou a preços simbólicos nestes Açores (Angra, Ponta Delgada, Praia da Vitória, etc), parece haver uma lei natural que oprime todos aqueles que se calam, ou resmungam inconsequentemente.
Pensamos que neste mês de Outubro, os picoenses têm a oportunidade de expressar tudo aquilo que lhes vai na alma.

Deus nos ilumine!

13 comentários:

Anónimo disse...

Desconhecia este artigo do Albino Garcia. O articulista foca um assunto que me é particularmente caro. É pena que as nossas "forças vivas" não se preocupem (?) mais com algumas injustiças a que os Picarotos continuam sujeitos.
Se não é triste sina, anda por lá perto.
Que não doa a voz ao Albino e a todos quantos não se conformem com este estado das coisas.

Anónimo disse...

Mais uma vez paga o Faial pelos problemas do Pico.
É certo que a situação dos taxis poderá acontecer e é pena que aconteça, e nos tempos de hoje o lucro vem acima de tudo, ou seja, o que interessa é ganhar dineiro sem olhar a meios.
Quanto às pessoas do Pico, não considero que sejam uns coitadinhos como retratado no artigo, são pessoas que ao longo da sua história habituaram-se às adeversidades da vida.
Relativamente ao hospital, lá está a velha questão, a ilha do Pico não tem hospital porque lá existem "3 comadres" que não se "cosem" e cada uma delas que o hospital no seu "quintal".

Anónimo disse...

Com tanta pressão do governo o Nuno Barata foi instigado a fechar o blogue.
A desculpa é que foi muito esfarrapada.

Anónimo disse...

fp
Bem sabemos que o Faial está "cansado" de tanto pagar pelos problemas do Pico. Com contas dessas, podíamos nós bem, não acha!?
Que estamos habituados às adversidades vida, também é verdade. Não quererão os meus amigos, por vosso lado, habituarem-se, também, um pouco? Apenas por uma questão de equílibrio (E de hábito)!?
Quanto ao hospital, nada tenho a comentar.
Quanto ao artigo do Albino, apenas quero reforçar a ideia que é pena que o Pico não tenha mais vozes, como a dele, a falar alto e grosso. Sem papas na língua!
Passe bem.

Lc disse...

Tá muito giro sim senhor, para quem não conhece a realidade até acredita, não digo que algum taxista tenha feito semelhante coisa, nos dias que correm tudo é possível, mas fazer disso uma regra, desculpem lá, mas é mesmo vontade de falar mal. Todos os dias vejo a enorme fila de táxis aguardando a chegada do Cruzeiro, e não vejo ninguém a recusar serviço, ou a escolher clientes, por isso tenham paciência, mas esse senhor deve ser do calibre de muitos dos que escrevem nesse jornal.
É uma pena, não existir um Hospital no Pico, acho isso patético, concordo que as pessoas não devem ser sujeitas a estas viagens, mas não vejam sempre tudo com "olhos" de ódio pela ilha vizinha, essa história do coitadinho pode ter tido sucesso em alguma época, hoje já não. Se é penoso e acredito que seja, para nós também não é pêra doce, pois ficamos com o dobro dos utentes, logo o nosso atendimento também é mais demorado, mas isso é coisa que não passa pela cabeça desses senhores, o ideal é deitar abaixo, falar mal do Faial, até fartar, isso sim é uma grande motivação.
Agora pergunto, porque não lutam por aquilo que querem com o mesmo entusiasmo e deixem as outras ilhas em paz?

PS- Ao Paulo Pereira, tenho pena, que estejas a dar voz a este tipo de jornalismo, acho que vinhas mantendo um blog equilibrado e com uma visão (cada vez mais impossível) de um triângulo unido, pois com esta mentalidade meus caros vizinhos, assim não vamos lá, é difícil meter na cabeçinha que os verdadeiros senhores do poder não estão aqui...

Anónimo disse...

Anúncio no Hospital da Horta:

"OS DOENTES DO PICO TÊM PRIORIDADE NO ATENDIMENTO PARA AS CONSULTAS"

Afinal a descriminação é positiva!!!!

Anónimo disse...

Outra DISCRIMINAÇÃO POSITIVA:

Os passageiros do Pico com destino ao aeroporto têm prioridade em relação aos picarotos doentes e mal agradecidos.

Anónimo disse...

Os passageiros do Pico com destino ao Aeroporto também são picarotos e muitos deles doentes!!!
Se há discriminação,neste caso não é positiva.

Anónimo disse...

Este desabafo do Albino não deixa de ter razão.
Para quem é doente e sabe Deus que doença, e pretende , ao chegar do Pico, conseguir um taxi, por vezes é muito dificil.
Agora os comentários de muitos, que "instalados", só sabem deitar achas para a fogueira, sem, contudo, se aperceberem da realidade, é de lamentar.Não é regra, mas sucede muitas vezes, sobretudo, nos dias em que há avião para Lisboa.
Sabem como tudo isto se resolvia?
Com mais voos do Pico para Lisboa e assim já não havia necessidade
de se passar pelo Faial, engrossando as estatisticas.
Haja saude.

Paulo Pereira disse...

Caro Ic

Só agora tive disponibilidade e tempo para responder à sua deixa.
Quanto ao ódio pelo Faial, saiba que eu tenho familiares e amigos nesta ilha, na qual estudei e fiz tropa e que é uma ilha da qual tenho muito boas recordações.
Não, é definitivamente é esse o caso.
Sobre o facto desta situação não ser a regra, concordo.
Mas, caro Ic, bastaria um caso destes para termos um drama, não acha?
Pelo que ouço, haverá vários casos por mês.
Quanto aos doentes do Pico entupirem o hospital do Faial... parece-me uma afirmação tão ignóbil, que nem me atrevo comentar.
Mas olhe, Ic, se uma pessoa culta e humanista, como você, faz uma afirmação deste teor, que podemos nós esperar de alguns verdadeiros analfabrutos que conduzem táxis?
Não acha?

Caguei te Mariano disse...

Bom... nao conheco o autor dessa transcriçao, mas reconheco que é um autentico ignorante que nao sabe do que fala... primeira questao, para "nós" (e digo nós porque esta questao já é mais do ambito pessoal) é mais proveitoso fazermos hospital do que aeroporto, pelo simples motivo em que no mesmo tempo em que se faz um aeroporto, se faz meia duzia de serviços ao hospital, dai render tanto. segundo, esse ignorante e provavelmente muitos mais ignorantes, nao saberao que é proibido por lei, recusar um serviço por base no destino. nao sei como é a balda dos taxistas do Rochedo mas aqui, as nossas praças sao á vez, ou seja, sao atendidos sempre com o mesmo empenho, senao mais. Mantenham se no que sabem porque pelos vistos, deverao saber pouco... bacanos, escolham melhor o vosso campo de batalha. caro paulo, julgava o melhor do que isto... supostamente deveria ter feito melhor pesquisa antes de ter posto um artigo tao denegrido como este... assim, apanhar por tabela por alguem que para ja a estupidez alcança milhas, nao é facil... e quanto ao "senhor" (digo senhor com a mesma vontade de ver o almoço pela segunda vez no mesmo dia) Albino Garcia, farei tudo para que o artigo seja lido pela associaçao de taxistas da horta... assim provavelmente devera ser algo mais para se entreterem na espera da primeira lancha da manha... inte

Lc disse...

Aqui, não gasto mais latim (lol), é tudo igual, apenas gostaria que saber onde está essa afirmação tão ignóbil, que nem te atreves a comentar?
Aceito todo o tipo de argumentos, agora me "meterem" palavras na boca, desculpem lá, mas não dá.
Apenas referi, e volto a fazer sem qualquer tipo de problema, que as gentes do Pico (algumas mal intencionadas), devem aprender a olhar para o dois lados, e não só para um, aqui tudo o que existe só serve para os prejudicar, enfim se já são assim na própria ilha, porque seriam aqui diferentes?
Acho que o próximo artigo no ilha maior, deve ser algo do género:
"Faialenses maltratam os doentes do Pico no Hospital da Horta", pois se eu como Faialense, defendi que o Pico deveria ter um Hospital, e que as pessoas não deveriam ser sujeitas a essas viagens doentes, ou grávidas... já dizem que eu estou a dizer, e cito " doentes do Pico entupirem o hospital do Faial", imaginem lá como esta gente faz uma tempestade num copo de água.
E não querem que eu diga, que é vontade de falar mal????

Meu caro Paulo Pereira, desculpa lá mas não fui eu que o escrevi, foi você. Porquê, desconheço...

Para finalizar, a parte final do seu comentário ao meu, realmente é de muito mau gosto e não corresponde à ideia inicial que tinha de si, enfim...
Até sempre.

k disse...

De facto, a falta de Hospital no Pico é uma grave falha do Governo Açoreano. Este não pode alijar as suas responsabilidades em nome de eventuais desentendimentos dos actuais Centros de Saúde Picarotos porque estes defendem os seus próprios interesses enquanto o Governo deveria defender os interesses de todos os picarotos. Responsabilizem quem deve ser responsabilizado votando naqueles que fazem obras que servem os vossos interesses e não em mais ninguém.