quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Votar por votar?

A necessidade de votar deveria ser intrínseca. Deveríamos votar imbuídos do mesmo espírito que um crente possui quando se dirige à missa, ou um espectador a um espectáculo de arte, ou um conviva à reunião do seu círculo de amigos.

Ou, talvez ainda mais, pois, como nos dizem, votar é um dever cívico.

Mas sabemos que estas analogias se encontram desfasadas da realidade. Porquê?

Qualquer comum dos mortais que ouça uma conversa sobre políticos, e não se aperceba de quem são os seus destinatários, poderá ficar convencido que a mesma é sobre uma associação de malfeitores, tal a desconfiança acumulada.

Invariavelmente, refere-se que na Madeira, a próxima legislatura, terá menos deputados. O mesmo poderá acontecer na Assembleia da República, após a próxima revisão constitucional. Mas, por cá, em jeito corporativo, aumentou-se em cinco a já numerosa representação.

É que aperfeiçoar a proporcionalidade só pode ser desculpa, pois é possível melhorá-la sem alterar o número final de representantes. Ou mesmo reduzindo-o.

Depois, vem o tema da reforma que, como se sabe, transforma jovens de quarenta anos em reformados, bastando para tal o cumprimento de dois mandatos.

Como se explica isto à senhora Maria que tem de trabalhar até aos 70 anos para atingir a reforma, pese embora tenha trabalhado toda a sua vida, aqui e no ultramar?

Como se explica esta excepção aos pilotos de aviões que, embora tenham uma profissão desgastante, só podem reformar-se aos 65 anos?

É que apenas os cidadãos que ficam incapacitados física ou mentalmente o podem fazer mais cedo. Acaso todos os deputados, após oito anos de serviço ficam assim tão debilitados?

Seguidamente vem o tema dos subsídios de reintegração.
Os representantes quando regressam à vida activa sem atingir a reforma, são admitidos automaticamente nas suas profissões, pois o seu lugar permanece cativo.

Então, por que têm de beneficiar de mais um subsídio?
Mais ainda, sabemos que a passagem pela Assembleia não é nenhuma diminuição, podendo mesmo servir de auto-promoção, que o digam os gestores e advogados.

Reconhecemos que os parlamentares devem ser bem pagos, mas seria preferível pagar mais no vencimento mensal e menos nestes encargos dissimulados.

Posteriormente, surge o assunto da disciplina partidária.
Afinal, para que servem tantos valores individuais se são diluídos numa estranha unanimidade.

Não transmitirão a ideia de marionetas manobradas pelos aparelhos partidários?

Enfim, em vez de apelar ao voto, por vezes mesmo pedinchar, talvez fosse mais profícuo dar bons exemplos e elaborarem leis mais justas.

Apesar de tudo, eu acredito na democracia representativa, e, relativamente ao Pico, continuo a acreditar que seria útil o aparecimento de um representante de uma terceira força política.

Pois verificamos que a CDU sempre nos habitou a boas representações, que o digam os florentinos, ou os eleitores de Decq Mota.
E os terceirenses parecem não se ter dado nada mal com o PP de Artur Lima.

Esta tarefa estará agora mais facilitada com a criação do Círculo de Compensação, pois basta a CDU captar os votos dos eleitores insatisfeitos do PS, ou o PP fazer o mesmo com o PSD.

Mas valerá a pena desafiar César ou Costa Neves?

Talvez, pois o PS insiste num seguidismo mediano. E o PSD na imagem de um individualismo carreirista, em vez da ambição e irreverência, próprias de uma oposição.

Contudo, julgo ser imprescindível um compromisso dos eventuais deputados da CDU e do PP pelo Círculo de Compensação com os eleitores picoenses.
Estes candidatos têm de apostar no estreitamento dos contactos com os eleitores dispersos pelas ilhas dos Açores.

E, embora discorde da intenção dissimulada do pedido de voto de Carlos César, continuo a pensar que os eleitores descontentes têm agora mais uma opção e que será preferível votar, a ficar em casa.

2 comentários:

Jordão disse...

Bom post!

Anónimo disse...

Admiro a tua coragem no que publicas.Ainda bem.Continua com a mesma clareza.
Zulmiro