terça-feira, 17 de março de 2009

A magia do Pico vista por Daniel de Sá

Meu Deus, o Pico!...
É uma paixão esta montanha que é uma ilha, esta ilha que é uma montanha.Os vulcões construíram uma larga plataforma de que restam pouco mais de 433 Km2, e empilharam no meio dela, a um ritmo de dez metros por milénio, rochas sobre rochas até atingirem uma altitude de 2351, a maior de Portugal.
A montanha é o cenário de um espectáculo quotidiano de vertiginosos jogo de luz e sombra, de nuvens que a rodeiam como auréolas, que se detêm sobre o seu cume ou que a escondem totalmente.
No Inverno, essas sessões diárias são ainda mais requintadas, quando a neve assume o papel principal. E, muito antes dos boletins meteorológicos científicos, já as gentes do Pico liam na aparência da montanha a previsão do tempo.
Povoar esta ilha, que é a mais recente do arquipélago, foi uma aventura e um risco como em nenhuma outra.
Foto retirada daqui
O solo cultivável tem características mais de invenção que de descoberta. Os muros que dividem e protegem os terrenos agrícolas libertaram de incontáveis pedras o chão necessário.
E, como não foi possível equilibrá-las todas em linhas ordenadas, muitas foram amontoadas, formando pequenas colinas, os “maroiços”, para ocuparem menos espaço. (Se fossem postas em linha recta no equador, seriam suficientes para dar duas voltas à Terra.)
O resultado é uma paisagem arrebatadora, tão selvagem quanto civilizada, mas capaz de produzir o melhor vinho destas ilhas, de vinhas plantadas em cada buraco entre as pedras onde caiba uma cepa, o que fizeram pela primeira vez os frades franciscanos em 1493.
A fruta e o queijo do Pico são também dos melhores, e a ilha, excepto em anos de calamidade, sempre deu para alimentar os seus habitantes, que já foram o dobro dos actuais menos de quinze mil, a quem ainda sobrava muito para vender no Faial.
Foto retirada daqui
Além disso, há o mar, aquele mar dos destemidos baleeiros e de inestimável abundância, que até fornece para vários usos a sua água, filtrada pelas rochas quando a maré sobe e ela enche os “poços de maré”.
Foto retirada da net
Aquele mar tão esplêndido quando é visto do miradoiro da Terra Alta, um despenhadeiro vertical de quatrocentos e quinze metros, a melhor varanda para ver São Jorge no outro lado do canal. Porque, como se não bastasse ao Pico ser o Pico, ele goza ainda da visão tão próxima daquela ilha e do Faial. Mas é também ele mesmo a mais grandiosa paisagem de que desfrutam ambas.
Daniel de Sá, in "Açores", edição Everest
Com um abraço de reconhecimento e amizade. Daniel
Terça-feira, Março 17, 2009 3:16:00 AM.
Retirado daqui


É sempre um prazer ler Daniel de Sá. O Basalto Negro, por várias vezes, já teve o privilégio de o citar, quer através do blog Aspirina B ou pelo Azores digital.
Desta vez, foi feita uma pequena provocação, por intermédio do blog A ilha dentro de mim, a qual foi prontamente aceite, demonstrando assim que, Daniel de Sá, além da cordialidade que habitualmente o caracteriza, continua a demonstrar uma contagiante boa disposição.

6 comentários:

Anónimo disse...

A beleza da "minha" Ilha é tanta que emociona! Não se pode medir o orgulho sinto ao ver estas imagens, que dão luz, cor e forma à magia de que fala Daniel de Sá. O Pico não é, mais, a Ilha do Futuro porque se quer, cada vez mais, do Presente!
Parabéns, Paulo, por este momento de inspiração e por teres colocado ao nosso dispôr este teu testemunho, que considero, ímpar.
Fazendo minhas as palavras de um Homem que ama a Ilha como poucos e referindo-se, óbviamente, ao nosso querido Pico: "Se eu fosse músico, compunha-te um Hino!"...

Anónimo disse...

Daniel Sá, só há um e mais nenhum.

Anónimo disse...

Pois é...Daniel de Sá...e está quase tudo dito.

As imagens ilustram de forma magnífica o belo texto.

Parabéns!

Carlos Faria disse...

bonito post ao nível das imagens e do texto.

Anónimo disse...

Para os que desconhecem a foto do poço da Maré. (a 3ª. do texto).
Quando a maré está cheia o poço não dista mais do que dois metros, da beira d'água.
No entanto, a àgua com a maré como se vê, era doce. Agora parece que foi enchurrado.
Boas recordações nos deixa aquele lugar.Era junto a ele que se passava quando se ia para cima da ladeira...
Lajense Longe+

Carlos Faria disse...

ao anónimo
tal deve-se ao facto da água doce ser menos densa que a salgada, combinado com o equilíbrio do fluxo da primeira ter origem nas zonas elevadas do interior da ilha. pena que o homem consiga romper com este equilíbrio natural... infelizmente destrói muitos outros também.