segunda-feira, 11 de maio de 2009

Consciência Brava


Proponho que o dia da votação da sorte das varas na nossa Assembleia, passe a ser designado como o Dia do Deputado que Vota em Consciência.

Sim, depois do Dia da Liberdade, do Dia do Trabalhador, do Dia do Dador de Sangue, ou mesmo do Dia Mundial das Zonas Húmidas, será conveniente assinalar esta data, em nada inferior às outras, como a do Dia do Deputado que Vota em Consciência.

Se a sorte das varas é uma mais valia, ou um retrocesso civilizacional, isso é uma questão de somenos importância, pois os deputados dos grupos parlamentares do PS e do PSD vão dispor, excepcionalmente, de liberdade para votar de acordo com a sua consciência, como já autorizaram os respectivos líderes partidários, Carlos César e Berta Cabral.

Alegrem-se os raros defensores do voto em consciência, pois a nossa democracia não está condenada à eterna caneirada.
Haverá pelo menos um dia, nesta legislatura, que os nossos deputados irão gozar do direito de voto em consciência, sem terem de pensar, portanto, pela cabeça dos respectivos líderes parlamentares.

Prevejo já um hemiciclo em delírio, eles de cravo vermelho ao peito, elas com cravos presos à bandolete. Alguém, com um violão nos braços, vai dedilhando umas canções do Zeca, enquanto outros declamam poemas de Alegre.

Todos os rostos irradiam um sorriso contagiante, e uma espiral de incontida felicidade rodopia pelo hemiciclo. Há até quem declare: - Já não me sinto igual aos deputados de Salazar, hoje voto segundo a minha consciência.

E dão-se vivas à Democracia, e ao Povo que Mais Ordena, e Abaixo a Disciplina de Voto, e o Pensamento Único: Nunca Mais, e Votação em Consciência: Sempre.

Nesta euforia histórica, todos querem votar de acordo com os seus princípios, e não há absentismo, estando ausente o desejo de prolongar o fim-de-semana. Pois todos se acham úteis e necessários.

E a excitação alastra e invade s/ excia, o sr presidente da assembleia, que, visivelmente emocionado, prescinde de interpretar a nova lei à sua maneira.

Enfim, acaba por dizer, a festa consciente é, sem dúvida, a melhor a festa.

3 comentários:

Tiago R. disse...

Bravo!

Belo post!

Fiat Lux disse...

Muito bem dito.
Quer dizer, durante o tempo todo os líderes mandam nos deputados e mandam-nos sentar ou levantar como autómatos.
E agora quando a coisa fica complicada, só porque nao se querem comprometer, oferecem a benesse de permitir aos deputados de pensarem pela sua cabeça.
Democracia isto?

Defensor nº 1 disse...

Pois, parace mesmo um presente envenenado aos nossos pseudo-defensores!
Esta democracia parlamentar tinha que ser um bocado reformulada ou complementada com uma participação mais directa dos cidadãos!
Como mudar? Com organizações cívicas e apolíticas de grupos representativos, seria uma hipótese...