quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O (mau) capitalismo - S. Sanches


O PS, o PSD e o CDS são os partidos do poder: os que estão comprometidos com as derrapagens das obras públicas e falcatruas avulsas que se arrastam pelos tribunais.

Ao Bloco de Esquerda cabe denunciar estes desmandos.

Não é difícil.

Francisco Louçã não tem que se esforçar muito para denunciar as tranquibérnias da república: basta servir de porta-voz ao Tribunal de Contas.

Um ponto nodal, porque as derrapagens das obras são apenas a face mais obscenamente visível daquele feroz rent seeking perfeitamente legal ou ilegalíssimo que caracteriza o capitalismo português e que tem conduzido a crescimentos do produto à volta de 1% (apesar das transferências comunitárias).

Um mau capitalismo, em suma, para usar a distinção de Baumol entre os bons e os maus capitalismos.

O nosso é dos maus e não há fundos comunitários que lhe valham.

Os maus capitalismos geram os votos de protesto e nos casos extremos produzem os Chávez. Com aquela gente que frequentava o governo na Venezuela, com a sua lógica pré-capitalista do saque de fundos públicos como forma única, normal e possível de enriquecer não há petróleo que baste.(...)

O Bloco não é Chávez, felizmente, e há décadas que em Portugal ninguém acredita que os militares possam salvar a pátria ou servir para qualquer coisa.

Mas para o Bloco o mau capitalismo é um pleonasmo: o capitalismo é tóxico e por isso a EDP deve ser renacionalizada para que, com os seus lucros, os imposto possam ser reduzidos.

Noutros termos: o Bloco não quer ir para o poder e quer esconjurar qualquer tentação demoníaca.

O Bloco não pode ir para o poder porque nacionalizar a EDP com indemnização a preços de mercado era demasiado caro.

Para a nacionalizar sem indemnização era necessário mudar a constituição (a la Chávez) e deixar a União Europeia: o Tribunal das Comunidades ia considerar uma nacionalização sem indemnização como um confisco contrário ao Direito Comunitário, num acórdão que não precisava de ter mais de duas ou três páginas.

A conclusão é que o Bloco é, quer continuar a ser, um puro voto de protesto, para quem não se revê na ideologia arqueológica do PCP.

Um voto de protesto que sintetiza as escolhas impossíveis: de um lado o Freeport do outro o BPN.

Logo, a corrupção não pode ser discutida e por isso não entra no debate político. São outros os temas da campanha eleitoral.
Depois, espantem-se com a dimensão do voto de protesto.
Leia este texto na íntegra aqui

1 comentário:

Carlos Faria disse...

O mau capitalismo não permite de facto discutir a corrupção, as ideias a sério e estratégias para o futuro de portugal.
A preservação do baixo nível de instrução, formação, exigência de ensino e outros problemas do mesmo teor (independentemente do número de anos frequentados nas escolas livre ou obrigatoriamente)são sem dúvida o terreno mais fértil para o mau capitalismo
nisto portugal tem muito terreno para semear mau capitalismo e por isso, penso eu, que a degradação do ensino não é ocasional mas intencional...