(À maneira de Cesário Verde, propositadamente)
A agitação dos dias de baleia!
Marinheiros correndo para o porto.
Iguala o Universo num grão de areia
e o Nada é um doutor de olhar absorto.
A bomba que rebenta na vigia
sacode o ar num sobressalto de asas.
A vida igual de sempre dir-se-ia
outra na lida habitual das casas.
Mas à agitação se segue logo
uma ansiedade vã sobre a paisagem:
em cada coração crepita um fogo
à espera apenas de uma leve aragem.
Depois, qualquer sinal no horizonte
parece um barco – e uma baleia morta?
Um binóculo espreita, ali defronte,
E um vulto de mulher assoma à porta.
Inquieto, alguém pergunta: - Que é? Que foi?
Um coração lento cruza a dúbia praça;
reflecte a placidez do boi
a morna placidez da tarde baça.
Mas não há uma vela pelo mar!
As horas passam, moles, arrastadas...
A noite vem... Os botes sem chegar!
E um choro enche as casas desoladas.
Pedro Laureano Mendonça da Silveira (1922-2003), natural da Ilha das Flores, nos Açores, foi um poeta e investigador de avantajada cultura, com colaboração dispersa em numerosas revistas, açorianas e continentais. Pertenceu ao conselho de redacção da Seara Nova até 1974. Foi, depois do 25 de Abril, membro da comissão de gestão da BN-Biblioteca Nacional, tendo-se reformado como director de serviços desta instituição. Também publicou «Sinais de Oeste» (1962), «Corografias» (1985), «Mesa de Amigos» (versões, 1986), «Poemas Ausentes», (1999) e «Fui ao Mar Buscar Laranjas» (Poesia 1942-1961).
quinta-feira, 17 de abril de 2008
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2 comentários:
Um dos Grandes Açorianos.
Mas seria importante uma maior divulgação da sua Obra, para que as novas gerações não soubessem apenas quem foram Antero, Nemésio e Natália.
Se souberem...
Caro amigo, fostes um dos meus nomeados da Campanha Amizade. Passa no meu blog para veres as instruções. (lol)
Um abraço.
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