domingo, 22 de junho de 2008

Os exames ao serviço da propaganda

O país do faz-de-conta

Esta foi uma semana de exames dos ensinos básico e secundário. Mas foi uma semana onde vimos a ministra da Educação congratular-se com os magníficos resultados que os alunos obtiveram nas provas de aferição. De acordo com a ministra Maria de Lurdes Rodrigues esses resultados mostram um progresso assinalável na capacidade de aprendizagem dos nossos jovens.
Mas vejamos os números. Houve, em matemática por exemplo, 8,8% de reprovações no 4º ano e 18,3% no 6º ano. Mas, se olharmos os números do ano passado, veremos que a taxa de reprovações foi mais do dobro (19,7% no 4º ano e 41% no 6º). O que significa isto? Que os nossos alunos progrediram assim tanto, de um ano para o outro, ou que os exames foram simplificados? Cada um retirará as suas conclusões.
Vejamos, entretanto, o que dizem os estudantes no final dos exames que esta semana decorreram: de um modo geral que foram fáceis. Não haverá aqui uma estranha unanimidade? E o que dizem as associações como a dos professores de Português ou a Sociedade de Matemática? Que há facilidade excessiva! E o que dizem os especialistas e os professores? Mais ou menos o mesmo.
Acresce que nos exames actuais os alunos podem ter negativas sem ficarem chumbados. Além de que existem inúmeras facilidades que não existiam, em termos de apoios (v.g. máquinas de calcular, acesso a fórmulas, etc.).
Ora isto, além de pouco resolver do ponto de vista do conhecimento, nada contribui para a motivação dos professores, atrapalha a autoridade das famílias (é muito difícil mandar uma criança estudar quando o sistema lhe diz que não é assim tão importante) e prepara os jovens para um mundo inexistente, um país do faz-de-conta.
Porque nada na vida real é assim tão simples.
In http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/349404

Pois, ao fim de três anos é necessário apresentar resultados. E eles aí estão...

E, a este ritmo, nos próximos três anos ultrapassaremos a França, a Alemanha e a própria Finlândia.
Enfim, seremos o novo farol da educação.

Isto, se tivermos a esperteza saloia de proibir os estudos da OCDE, que nos tem sempre tramado, colocando Portugal no grupo de países abaixo da média, na 37ª posição entre 57 em 2006.

Cá pelos Açores, as PASES de Português e Matemática são feitas na Região, pois os ciclos eleitorais dos Açores raramente coincidem com os do continente. Ou será que a Matemática dos Açores merece ser avaliada de forma diferente da do continente?

Terá esta linguagem perdido o seu carácter universalista?

4 comentários:

Anónimo disse...

Não digo que não seja importante o ensino da Matemática, do Português, Etc. Etc., mas, por favor, não se pode, nem deve, descurar, em primeiríssimo lugar, o CIVISMO. De nada servirá um País de Doutores e Engenheiros se as Pessoas não se respeitarem mútuamente.
É o que eu penso e sinto.

Paulo Pereira disse...

Completamente de acordo.
Artur, o que eu pretendi dizer é que é possível ter melhor civismo, mas também melhor ensino se seguirmos mais os estudos PISA e menos os calendários eleitorais.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Civismo aprende-se em casa, com a família, e desde que se nasce. Não é na escola. Pelo menos antigamente era assim...

Anónimo disse...

Não discordo da opinião do anónimo, mas se desde o berço não se ensinam as práticas do civismo e se se chega à Escola e ela não tenta (Porque não pode?...) incutir alguns bons princípios, caímos num ciclo vicioso e nunca mais saímos daqui. Será o velho chavão da pescadinha, de rabo na boca...
A "crise" que o País e o Mundo atravessam não é só económica e tem muito que se lhe diga. Apenas se faz sentir mais nuns, que em outros.