sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Darwin e os Açores

Francisco de Arruda Furtado (1854-1887)

Darwin passou pelos Açores, no regresso a Inglaterra. O Beagle ancorou na ilha Terceira a 20 de Setembro de 1836, perto da cidade de Angra.

Nessa altura Angra era a capital do império, uma vez que Portugal estava em plena guerra civil e D. Pedro, refugiado na Terceira, proclamara a ilha capital.

Darwin andou a visitar a ilha, foi ver uma suposta cratera, que a Darwin pareceu simplesmente uma série de fissuras em rocha vulcânica, e visitou a cidade da Praia no extremo nordeste da ilha. Contudo, os dias nos Açores não foram produtivos ao Darwin naturalista.

O Beagle deixou a Terceira a 24 de Setembro de 1836 em direcção a S. Miguel, para apanhar algumas cartas, e partiu para Inglaterra.

Darwin no seu diário de viagem e mesmo na Origem das Espécies faz muito poucas referências aos Açores. Na verdade o arquipélago é referido apenas quatro vezes na Origem das Espécies.

O que mais lhe chamou a atenção foi o carácter dos açorianos, tão diferente dos portugueses do Brasil que o haviam indignado. Estes pareciam-lhe pessoas agradáveis, “homens do campo, de aspecto limpo”.

Enquanto naturalista, não achou as ilhas interessantes e podemos dizer que estas não tiveram impacto na teoria evolucionista.

Mas o cientista não estava totalmente desinteressado do arquipélago. Darwin tentou colher informação sobre os Açores através de alguns amigos. Tenta encontrar espécies endémicas de pássaros, plantas, insectos.

Em correspondência com Hooker, Watson e outros tenta obter sementes, plantas ou apenas impressões sobe as espécies das ilhas. Pede inclusive a Hunt que lhe envie um morcego.

O que mais inquieta Darwin nos Açores é precisamente não haver nada de especial, parece-lhe estranha a falta de espécies endémicas que se tivessem alterado com o isolamento.

O estudo de algumas espécies dos Açores e a troca de impressões com outros cientistas acaba por não ser frutífera e os Açores acabam por não ter relevância nos trabalhos desenvolvidos por Darwin. Texto retirado daqui

O único português a corresponder-se com ele foi um jovem açoriano de 26 anos, Francisco de Arruda Furtado, completamente isolado dos círculos científicos.

Darwin dirigiu-se a Francisco Arruda com palavras gentis e encorajadoras: “Admiro-o por trabalhar nas circunstâncias mais difíceis, nomeadamente pela falta de compreensão dos seus vizinhos”.(...)

E no mesmo ano em que escrevia a Darwin, Furtado publicou em Ponta Delgada um folheto intitulado “O Homem e o Macaco”, em resposta a um padre que tinha pregado nessa cidade: “E ainda há sábios que acreditam que o homem descende do macaco!... Nós somos todos filhos de Nosso Senhor Jesus Cristo!...”

O açoriano esclareceu que “não há sábios que acreditam que o homem descende do macaco (...) mas que ambos deveriam ter sido produzidos pela transformação de um animal perdido e mais caracterizado como macaco do que como homem.

Eis o que se disse e o que se diz e, se isto não se prova, o contrário também não”. Adaptado daqui

Francisco de Arruda Furtado nasceu em Ponta Delgada, a 17 de Setembro de 1854. Foi autodidacta, não possuindo qualquer grau académico, embora tenha sido foi colocado como adido no Museu de História Natural da Escola Politécnica. Morreu na Fajã de Baixo, arredores daquela cidade, em 21 de Junho de 1887.

8 comentários:

Anónimo disse...

Muitíssimo interessante! Senti-me ignorante por não saber estas coisas... Mas agora já sei. Obrigado Sr. Basalto por trazer assuntos que realmente fazem a diferença.

Carlos Faria disse...

Bem, já se sabia que iria sair algo no género aqui aí por estes dias, vou me resguardar lá para mais tarde. julgo que a foto não tem direitos de autor e que a posso carregar e utilizar então. Caso contrário diz qualquer coisa.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

http://www.freeetv.com/tk/modules.php?name=Video_Stream&page=watch&id=2331
Site na internet onde se pode ver gratis a RTP-Acores em directo.

Paulo Pereira disse...

Ao Geocrusoe,
estava a pensar publicar uma entrevista imaginária a Wallace, em jeito de provocação, mas não tive tempo.
Fico a aguardar a tua abordagem a Darwin. Como sabes, não tenho qualquer direito de autor sobre a foto e se tivesse teria todo o prazer em ceder-te.
Cmpts

Jordão disse...

Bom post sim senhor!

Anónimo disse...

Bom texto, e oportuno.
A ligação destes dois homens foi importante,a troca de cartas interessantíssima.
E é sempre louvável a divulgação destas coisas, para não cairem no esquecimento.

Parabéns.

Tomás disse...

Muito bom este post!

já agora
estas ilhas sem nada de especial...

www.ilhascook.no.sapo.pt