Manobras com um canhão de 106 milímetros
Fez ontem vinte anos que fui cumprir o SMO, serviço militar obrigatório.
Fui incorporado na Escola Prática de Infantaria, que ficava no Convento de Mafra, mais conhecido, entre nós, pelo “calhau”.
Fui incorporado na Escola Prática de Infantaria, que ficava no Convento de Mafra, mais conhecido, entre nós, pelo “calhau”.
Cheguei ao Convento de expresso, vindo de Lisboa. E logo fiquei impressionado com a dimensão megalómana do Convento, sobretudo quando comparado com a pequena cidade onde está inserido.
Desci do autocarro e incorporei-me numa fila interminável de instruendos, para as habituais formalidades: apresentação, corte de cabelo, vacinação e distribuição de fardas.
Quando nos dirigimos para a porta de entrada, deparámos com um oficial de ar trocista, que nos lembrou que a nossa presença ali era voluntária, pois não tinham ido buscar ninguém a casa.
E depois prosseguia, em tom de desafio:
-Se não querem vir para cá, ainda estão a tempo... voltem para trás.
Aqui ele fazia um compasso de espera, para acreditarmos que isso era possível.
Depois continuava, com um sorriso zombeteiro:
-Se não se incorporarem, serão julgados por um tribunal civil. Se se incorporarem e depois desertarem, têm um tribunal militar à perna.
E, cabisbaixos, lá íamos avançando, lentamente, em fila, privados pela primeira vez da nossa liberdade.
Condenados, sem direito a julgamento, nem recurso, arrastavam-se pelos escuros corredores mais de quinhentos mancebos vindos de todo o país.
A distribuição de fardas prolongava-se pela noite dentro. E logo nessa primeira noite, perdi-me dos meus camaradas, nos labirínticos corredores do Convento.
Só, com uma trouxa de fardas e cobertores às costas, e com a luz eléctrica a falhar várias vezes durante o percurso, andei às voltas até encontrar o caminho para camarata.
Fiquei no sexto Pelotão da sexta Companhia de Instrução. Não conhecia ninguém. Nem sequer havia outro açoriano ou madeirense no pelotão.
Fome, frio, sono, cansaço e estar permanentemente a correr de um lado para o outro, sem saber bem porquê, nem para quê, foram uma constante nestes cinco meses de recruta e especialidade em Mafra.
Os outros dez meses foram passados na Horta, totalizando quinze meses de tropa.
Sobre este tempo, comum a milhares de jovens da minha idade, oriundos de todo o país, só me resta concluir: que desperdício de tempo, energias e dinheiro, no meu pobre país.
4 comentários:
Também passei por Mafra, mas menos tempo.
Fiquei com um pó tão grande aquilo que nem quero passar lá perto.
A tropa era um desperdício de tempo e aquela ideia pacóvia de que era uma escola de virtudes era afinal uma grande mentira. Não aprendi nada na tropa.
Na últiam foto tem mais um açoriano do faial: o faria.
Ao 100
Dos graduados que vieram para o Faial em Julho de 89, havia mais um açoriano (Neves) para além de mim e o Faria. Não faziam parte do meu pelotão, nem os cheguei a conhecer em Mafra, apenas nos encontramos, pela primeira vez, no RIAH e depois na Horta.
Já agora, aproveito para identificar os fotografados.
De pé, da esquerda para a direita: Monteiro, Pereira, Neves, Rocha e Matias.
Em baixo, também da esquerda para a direita: César, Pinheiro, Faria e Duro.
para tua informação, o neves continua com a mesma carinha desse tempo... tu, já vi, que mudastes e muito (andas a beber aquele ice tea do mudastea?)
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