domingo, 22 de fevereiro de 2009

Era uma vez a tropa

Saída para fim-de-semana
Foto tirada à revelia, mostrando o estado de espírito de um camarada

Manobras com um canhão de 106 milímetros

Procurar uma posição, cavar trincheiras, camuflar e depois limpar tudo
Numa de "Rambos"

Graduados do SMO da incorporação de 1989, na Horta

Última foto, já no aeroporto da Horta - Maio/90

Fez ontem vinte anos que fui cumprir o SMO, serviço militar obrigatório.
Fui incorporado na Escola Prática de Infantaria, que ficava no Convento de Mafra, mais conhecido, entre nós, pelo “calhau”.

Cheguei ao Convento de expresso, vindo de Lisboa. E logo fiquei impressionado com a dimensão megalómana do Convento, sobretudo quando comparado com a pequena cidade onde está inserido.
Desci do autocarro e incorporei-me numa fila interminável de instruendos, para as habituais formalidades: apresentação, corte de cabelo, vacinação e distribuição de fardas.

Quando nos dirigimos para a porta de entrada, deparámos com um oficial de ar trocista, que nos lembrou que a nossa presença ali era voluntária, pois não tinham ido buscar ninguém a casa.
E depois prosseguia, em tom de desafio:
-Se não querem vir para cá, ainda estão a tempo... voltem para trás.
Aqui ele fazia um compasso de espera, para acreditarmos que isso era possível.
Depois continuava, com um sorriso zombeteiro:
-Se não se incorporarem, serão julgados por um tribunal civil. Se se incorporarem e depois desertarem, têm um tribunal militar à perna.

E, cabisbaixos, lá íamos avançando, lentamente, em fila, privados pela primeira vez da nossa liberdade.
Condenados, sem direito a julgamento, nem recurso, arrastavam-se pelos escuros corredores mais de quinhentos mancebos vindos de todo o país.

A distribuição de fardas prolongava-se pela noite dentro. E logo nessa primeira noite, perdi-me dos meus camaradas, nos labirínticos corredores do Convento.
Só, com uma trouxa de fardas e cobertores às costas, e com a luz eléctrica a falhar várias vezes durante o percurso, andei às voltas até encontrar o caminho para camarata.

Fiquei no sexto Pelotão da sexta Companhia de Instrução. Não conhecia ninguém. Nem sequer havia outro açoriano ou madeirense no pelotão.
Fome, frio, sono, cansaço e estar permanentemente a correr de um lado para o outro, sem saber bem porquê, nem para quê, foram uma constante nestes cinco meses de recruta e especialidade em Mafra.

Os outros dez meses foram passados na Horta, totalizando quinze meses de tropa.
Sobre este tempo, comum a milhares de jovens da minha idade, oriundos de todo o país, só me resta concluir: que desperdício de tempo, energias e dinheiro, no meu pobre país.

4 comentários:

Anónimo disse...

Também passei por Mafra, mas menos tempo.
Fiquei com um pó tão grande aquilo que nem quero passar lá perto.
A tropa era um desperdício de tempo e aquela ideia pacóvia de que era uma escola de virtudes era afinal uma grande mentira. Não aprendi nada na tropa.

Tibério G Lopes disse...

Na últiam foto tem mais um açoriano do faial: o faria.

Paulo Pereira disse...

Ao 100
Dos graduados que vieram para o Faial em Julho de 89, havia mais um açoriano (Neves) para além de mim e o Faria. Não faziam parte do meu pelotão, nem os cheguei a conhecer em Mafra, apenas nos encontramos, pela primeira vez, no RIAH e depois na Horta.
Já agora, aproveito para identificar os fotografados.
De pé, da esquerda para a direita: Monteiro, Pereira, Neves, Rocha e Matias.
Em baixo, também da esquerda para a direita: César, Pinheiro, Faria e Duro.

Carlos Faria disse...

para tua informação, o neves continua com a mesma carinha desse tempo... tu, já vi, que mudastes e muito (andas a beber aquele ice tea do mudastea?)