terça-feira, 16 de junho de 2009

Do Vinho e dos Baleeiros



O vinho do Pico e a actividade dos baleeiros preencheram o imaginário dos primeiros repórteres da National Geographic que visitaram a ilha. (...)

Já os baleeiros, segundo a autora, punham em prática "coragem e talento" para derrotar os gigantes das profundezas.

A baleação do Pico, sobretudo por ser desenvolvida com técnicas artesanais, inspirou a admiração de muitos jornalistas forasteiros. Em "Junho de 1958, ainda no rescaldo da actividade do vulcão dos Capelinhos, o velejador e repórter freelancer Carleton Mitchell fundeou nos Açores, enquanto acompanhava uma regata transatlântica.

Ficou abismado com a coragem dos baleeiros picarotos: "Aqui, o arpão não tem explosivos. A linha deve ser lançada à mão. E a baleia é domada também à mão, enquanto o barco se aproxima, até os golpes atingirem um ponto vital, que leve à morte da besta", escreveu. (...)

"Mesmo então, os baleeiros enfrentam perigo. Às vezes, a morte ocorre a muitas milhas da costa, pelo que os barcos motorizados têm de rebocar a carcaça para a fábrica de baleação (...) Frequentemente, o clima piora. Muitas vezes, os barcos ficam toda a noite no mar, avessos a abandonar a sua presa."

Don Moser dava então conta de como se matavam 200 animais por ano no arquipélago (número, apesar de tudo, escasso, face aos mais de 30 mil abatidos pelas frotas japonesa e soviética) e de como a comunicação com os vigias se processava já através de radiotelefone.

Apesar disso, "os Açores são um dos poucos lugares da Terra onde (...) os homens avançam em pequenos barcos, munidos de arpões manuais, para defrontar as maiores criaturas dos mares. Os métodos dos baleeiros pertencem a outro século, o que é apropriado porque, nos Açores, o tempo desloca-se num ritmo muito próprio", escreveu. (...)

“Para discutir política com um açoriano, devemos estar preparados para “mandar abaixo um copo”, brincava Don Moser. Apropriadamente, o repórter chegou ao Pico entre 1975 e 1976, em plena época vinícola, disposto a perceber por que motivo o vinho da região gozava de tão afamada reputação.

Cedo percebeu o "perigo" do costume local. “Todas as pessoas que conhecemos oferecem-nos vinho e sentem-se insultadas se o recusarmos.
Sim, teremos sorte se sobrevivermos a este dia!”, brincou. Na verdade, o repórter de geopolítica tornou-se, na visita ao Pico, um degustador.
Provou bagaço e comparou-o com o vinho de cheiro, o comum vinho de mesa produzido em Setembro e comercializado a partir de Novembro.
Dali partiu para a prova de Angelica, uma das mais famosas marcas picarotas, um vinho delicado e doce, como o nome implica.
Excerto da Separata da National Geographic, Maio 2009

3 comentários:

Franco de Paula disse...

Tudo muito interessante

Tibério Dinis disse...

Esta separata estava fantástica, apesar de centrar-se demasiado em Angra do Heroísmo. A fotografia impressionou-me.

Haja Saúde

Anónimo disse...

Li a separata de Maio do "NG" e gostei.
Na verdade, a quantidade de cachalotes que os açorianos apanhavam, é ridícula quando pensamos em noruegueses e japoneses, em pleno século XXI, e nas "barbas" de tudo quanto é poder, mesmo o ecologista.
Provando que as "boas intenções" servem para pregar aos outros...