domingo, 21 de março de 2010

Bons exemplos (8)

Na ilha do Pico, lugar mágico de pedras negras e madeiras pintadas, erguem-se dois museus de Paulo Gouveia; o Museu dos Baleeiros (em 2 fases), na Vila das Lajes, e o Museu do Vinho, na Vila da Madalena.

Paulo Gouveia, nascido nos Açores, entre a escassa terra e o muito mar, foi arquitecto e também biólogo e, talvez por isso, marcado pela natureza poética da Arquitectura e pela natureza cientifica da Biologia, pautou o seu olhar por uma atenção delicada que, propondo, perscrutava, analisava e concluía.

Não é possível entender o Museu dos Baleeiros se ignorarmos a evidente influência da arquitectura tradicional açoriana, nem tampouco se ignorarmos a influência americana na dita “arquitectura baleeira”, a que de resto Paulo Gouveia dedicou um prolongado estudo.

Na verdade, a convergência dessas várias referências, da tradicional lógica da “pedra seca” às novas formas e técnicas construtivas de madeira (presente nos barcos de pesca à baleia / baleeiros, mas também nalgumas das casas de New Bedford / Boston), enformam uma outra realidade que supera a mais simples “leitura contextualista”, para, assente no acto concreto da construção, invocar memórias longínquas que completam a sua identidade local.

Ou seja, Paulo Gouveia repensou a expressão da sua cultura, alargando-a a um efectivo conjunto de referências (o mar e a imigração), presentes na vida de cada açoriano e imbricadas na temática (a pesca da baleia) do próprio museu.

O Museu dos Baleeiros é assim, na sua cenográfica e engenhosa primeira fase (1989), ou na sua mais contida e apurada extensão (2009), uma arquitectura que alberga, explica e estrutura colecções, mas também, ela própria, um curioso reflexo (discurso?) do seu conteúdo expositivo.
Se o Museu dos Baleeiros reflecte a deslocação para o mar, o Museu do Vinho reflecte o vincar na terra, decifrando a esforçada luta que durante séculos se travou com o solo. (...)
S.F.R.
Publicado em Revista Arquitectura

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado Paulo por recordares O Arq.Paulo Gouveia.
Muito conversei com ele e muito aprendi.
Não é demais lembrar a sua obra para que não fique esquecida.
É que o que foi ontem, hoje, já é passado.
Não é pessimismo, é o que vou constatando diariamente.
Uma ressalva. A culpa não é da nossa juventude.
Haja Saúde!
+

Carlos Silva disse...

Pois... De facto a obra de Paulo Gouveia é muito característica quer no seu estilo e na sua forma, embora devo dizer que adoro a 1º obra do Museu dos Baleeiros, mas já na 2º fase nem por isso o aspecto exterior é muito rígido e fechado assim como escuro, penso que deveria ter optado por mais luz através de janelas em várias torres e usando depois uma palete de cores variadas como o azul o vermelho o amarelo como é caracteristico das cores dos nossos botes, em vez de ter apenas usado o cinzento tornando assim o edificio um pouco deprimente como uma grnde mancha que ali está... são opiniões.