domingo, 13 de janeiro de 2008

Azorina vidalia – o verdadeiro símbolo dos Açores

É uma planta misteriosa, estranha e infelizmente rara. Os seus antepassados surgiram na África do Sul há cerca de 300 milhões de anos, fizeram um longo percurso até à Europa e América, onde se extinguiram nas últimas glaciações, chegando aos Açores. E sobreviveram cá - num clima ameno como o nosso, nada se extingue.

Diz-se mesmo que, por cá, até os postes eléctricos pegam de estaca e enraízam. Isto, claro, se forem de madeira. Os de cimento ainda não conseguiram...

Generosamente, a vidália floresce duas vezes por ano. Não barafuste, senhor Al Gore, leitor atento do nosso blog, não é mais uma prova do aquecimento global. É apenas um reflexo da subtropicalidade.

A nossa humidade e nebulosidade propiciam um ambiente mais tropical para as plantas do que as abrasadoras ilhas Canárias e Cabo Verde. Sim, senhor Gore, sempre tivemos duas Primaveras, ocorrendo a segunda em Setembro/Outubro. E as endémicas sabem-no muito bem, ao contrário das espécies introduzidas como os plátanos, álamos ou as usurpadoras hortênsias, que perdem as folhas no Outono. Enfim, um desperdício de folhas no nosso clima...

A costa de Porto Martins, onde vivo, apresenta muitas Azorina vidalli. Contudo, ultimamente, os cactos proliferam em certas zonas.
Sempre me intrigou este mistério até que entre dois dedos de conversa e um café, confidenciaram-me: preocupamo-nos tanto com a beleza da costa que chegamos a plantar cactos junto ao mar. O quê, e se os fossem plantar nas vossas banheiras? Ora, são mais bonitos que os juncos que tu proteges?

Valha-nos Deus, qualquer dia tenho a costa transformada numa paisagem da Namíbia. Se calhar também com direito a zona minada e a guerrilheiros da SWAPO, credo!!!
É que os cactos ocupam o território da vidália e podem extingui-la. Se ela for extinta dos Açores é extinta do nosso planeta, uma vez que não cresce em mais nenhum lugar.

Há, contudo, uma lição a tirar, existem cidadãos anónimos, preocupados com o ambiente, que são detentores de um enorme desejo de o proteger. É nosso dever esclarecê-los.
E para começar poderíamos eleger a vidália como símbolo dos Açores.

6 comentários:

Carlos Faria disse...

A ideia do post faz-me lembra o tema que já andou em cartazes por estas ilhas fora "Conhecer para proteger". Ninguém protege convenientemente o que desconhece... já agora, os cactos para alguns podem ser mais bonitos que os juncos, mas não conheço ninguém que não diga que a azorina ou a euphorbia stygiana e muitos outros endémicas não são bonitas. Os juncos concerteza também não estariam na zona dos cactos...

RPM disse...

Amigo e sempre considerado colega Paulo!

Aleluia porque já te tenho neste meu blogue e assim a inter-acção será mais prolixa!

Um abraço amigo e muitos 'sinhinhos' de alegria, qual Plim-Plim para ti e Família.

Paulo...manda-me o teu mail para anexar no messenger!

Abraço amigo!

RPM

Paulo Pereira disse...

Ao Geocrusoe - De facto, a euphorbia stygiana é muito bonita. Qual é o nome comum aí no Faial? A outra euphorbia tem nome comum de erva-leiteira. Suponho que as duas, como é comum nas euforbiaceas, sejam venenosas. Os cactos situam-se, de facto, afastados dos juncos e do bracéu.
Ao Rui, obrigado pelas palavras bonitas, especialmente por uma: prolixa. Juntamente com desabrochar e fenecer são as minhas favoritas. Se calhar, hei-de juntá-las num texto e, assim, um post medrará.

Paulo Pereira disse...

Rui, o meu mail é: palpereira@hotmail.com

Carlos Faria disse...

Não conheço o nome popular da euphorbia stygiana e tal deve ser devido ao facto da mesma viver em nichos afastados das povoações e a maioria das pessoas nem conhecerem a espécie, logo fica a questão: como iriam valorizar e proteger o que nem nome tiveram necessidade de dar?

Anónimo disse...

Caríssimo Paulo,
Parabéns pelo blogue que, ao que parece, abordará temas interessantes e diversificados. Quanto a este artigo, ocorre-me dizer que, apesar da extinção de espécies ser uma lei da natureza, o Homem, que se diz sábio, muito sábio, tendo o poder de provocar o desaparecimento de espécies, deveria ter também a sabedoria para proteger aquelas que lhe podem ser mais benéficas. No que concerne à Vidália, esta, enquanto espécie endémica deveria ser preservada para que, por exemplo, os turistas pudessem conhecer a diversidade da nossa flora. É que ainda hoje ouvi na rádio que a imagem dos Açores era a da natureza intacta e a possibilidade de contactar directamente com a fauna e flora...