quarta-feira, 4 de junho de 2008

A inadmissível traição do deputado Renato Moura: a defesa intransigente da sua terra, dos seus eleitores e da sua dignidade

A 29 de Maio de 1991, José Renato Medina Moura (R M) deixou de pertencer ao Grupo Parlamentar, o que levou a que o PSD ficasse sem maioria absoluta.

Quais foram os motivos que levaram Renato Moura a tomar esta decisão?

O incumprimento das promessas do governo relativamente às Flores, ilha pela qual foi eleito. O seu respeito pelos eleitores, levou-o a tomar a posição mais forte que estava ao seu alcance.

O que reivindicava Renato Moura?

O cumprimento das promessas do Governo, sempre adiado, que eram: criação da Escola Preparatória das Lajes, a ampliação da Escola Preparatória das Flores, os problemas da falta de habitação para médicos e professores, a construção do Lar de Idosos, os edifícios das Casas do Povo de Ponta Delgada e da Fajã Grande, o edifício para a Delegação do Centro de Prestações Pecuniárias da Segurança Social, a fábrica para a União de Cooperativas, o reforço do aproveitamento dos recursos hídricos para a produção de energia, a Residencial da Siturflor e o aumento da pista do Aeroporto das Flores até ao limite natural máximo.

Para além destes problemas das Flores, R M sentia que havia um problema de fundo, que era a tentação, cada vez mais indisfarçável, de o Governo impor a sua vontade à Assembleia, perante quem, ao contrário, deveria ser responsável.
É que os deputados, depois de eleitos, têm uma legitimidade que vai muito para além do partido que os escolheu para candidatos.

Entendeu, assim, que jamais poderia trair quem o elegera.

Após a sua passagem a independente, alguns colegas deputados deixaram de o cumprimentar e só o voltaram a fazer quando viram que o presidente do Governo, Mota Amaral, continuava a fazê-lo.

Quem conhecia bem RM, sabia bem que ele não retornaria ao Grupo Parlamentar. Mas se conseguissem que ele não falasse, ou pelo menos se não falasse muito, se insurgisse apenas contra membros do Governo, mas nunca contra o Presidente, já consideravam uma conquista! E melhor se fosse votando sempre ao lado do PSD.

A aflição de alguns e a ânsia de outros não lhes permitiram ver, antes, que ele jamais se “venderia” por lugares ou vantagens, quaisquer que fossem.

“Eu tinha uma profissão, à qual voltei com muita honra, 16 anos depois. “

Renato Moura nunca sentiu o menor arrependimento pela deserção do então partido que suportava o Governo Regional dos Açores, ao longo destes já 17 anos passados.

“Agradeço a Deus por me ter dado a lucidez e a força de como deputado fazer lembrar que o Governo não deve mandar na Assembleia, o que é uma tentação dos executivos, de imporem a sua vontade, substancialmente agravada sempre que os presidentes dos partidos são chefes do governo, através do abuso do mecanismo da “disciplina de voto”.

“Como florentino, acho que a minha ilha ficou a ganhar com a minha passagem a independente.Bastou que eu passasse a independente, para que o Governo acelerasse, de imediato, todas as acções para pôr em execução a célebre Resolução 477/87. O Governo e o PSD – que nessa altura já começavam a não se distinguir – sentiram a necessidade de tentar provar que eu não teria razão. Como relativamente a algumas matérias tudo estava muito atrasado, ou mesmo parado, alguns dos pontos demoraram todavia anos a acabar de se cumprir. Mas estão hoje realizados e tenho a consciência tranquila porque se cumpriram os prometimentos que assumira como deputado.

Nada me importa que estejam hoje nessas obras as placas com os nomes dos governantes que não queriam, mas foram obrigados a construir. Como nada me importa que alguns dos meus companheiros de partido, nas Flores – nomeadamente os que mais me apoiavam na pressão junto do Governo – tenham sido os primeiros a ficar do lado de Mota Amaral para assegurarem os seus lugarezinhos e ou serem candidatos à distribuição das futuras vagas.

Mas permita-me que lhe diga que esse período de um ano e meio foi importante também para o processo político e para os Açores. O debate político tornou-se muito vivo e salutar. Provou-se, pela primeira vez, que a Região se poderia governar com estabilidade, sem maiorias absolutas garantidas. E aprovaram-se iniciativas muito importantes. Sempre viabilizei tudo o que me provassem ser bom, viesse da oposição ou do Governo.”

Adaptação livre de http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=13309

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