terça-feira, 15 de julho de 2008

Açores ou milhafres? Só queimados...


Buteo buteo rotschildi

Acabe-se, de uma vez por todas, com a hipocrisia e tenha-se a coragem de alterar o nome da Região Autónoma dos Açores para o seu legítimo nome, a saber, Região Autónoma dos Queimados.

E digo isto honestamente, sem qualquer ironia ou piadinha fácil aos candidatos às eleições regionais que se avizinham. Sim, Carlos César ou Costa Neves deveriam candidatar-se à presidência dos Queimados e não à dos Açores.

Já estamos fartos de saber que os açores nunca existiram por cá. Nem tão pouco os milhafres. Gostaria de saber quem inventou esta dupla mentira.

Não acredito que os nossos experimentados descobridores fossem parvos, ao ponto de confundirem com açores as nossas águias, o Buteo buteo rotschildi que, na Terceira, e julgo que também em S. Miguel, é chamado de queimado.
Até porque os nossos descobridores, provavelmente, só viram aves marinhas e pombos por cá, pois as águias seriam muito raras, uma vez que a sua dieta é, essencialmente, de coelhos e ratos e estes ainda não tinham sido introduzidos nos Açores. Se só poderiam comer uns pombos torcazes, então seriam mesmo invulgares.

Acabe-se também com a segunda mentira: o Buteo buteo rotschildi não é um milhafre. O buteo é uma águia de asa redonda. Que por cá se chame queimado, faz todo o sentido, é um regionalismo. Agora, chamar milhafre a esta ave é o mesmo que chamar canário a um pardal.

Se o nosso primeiro povoador, Gonçalo Velho, venerava a Nossa Senhora do Açor, isso era lá com ele. Mas não terá sido motivo para nos baptizarem a todos de açorianos e não de queimadenses ou queimados (não sei propriamente em que grau, nem se seria caso de internamento na respectiva ala hospitalar).

Mas uma coisa sei, o nome de Açores deve ter vindo do aportuguesamento da designação genovesa ou florentina das míticas ilhas azuis. Ou seja, vem do vocábulo azzurre, ou azzorre, isto é, azuis, e terá dado o nome Açores.

Mantenha-se, então, o azul do azzorre, na nossa bandeira mas tire-se já o raio do açor. Insira-se Nossa Senhora ou, então, a estampar uma ave, ponha-se a legítima, o Buteo buteo rotschildi, que é o queimado.

É que os símbolos de uma região querem-se verdadeiros. E a bandeira e os símbolos dos autonomistas do açor, ou a dos independentistas do milhafre, padecem ambas do mesmo mal.
Um mal que deve ser reparado, sem demoras, com exemplos que se querem vindos de todas as ilhas.

Reconheça-se aqui a eterna sabedoria dos picoenses, que ao tomarem conhecimento das suas lideranças, já adoptaram a denominação correcta de queimados.

P.S. - Seguem-se imagens e links para complemento da informação.


Açor - Accipiter gentilis

Milhafre real - Milvus milvus

Milhafre preto - Milvus migrans

Buteo buteo - Tem as designações de: Queimado (Terceira), Manta (Madeira), Águia-de-asa-redonda (Continente) e, ainda, é, erradamente, chamado de milhafre em muitas ilhas dos Açores

Mais informações em :

10 comentários:

Jordão disse...

Bom post! Aqui em S. Miguel não se chamam Queimados mas sim Milhafres!

RPM disse...

Amigo Paulo!

hoje estás com veia mordaz, tão tipicamente teu, para quem te conhece.....

um abraço am~igo desde as terras dos doutores(??)


ah! não te esqueças de estender as 'visitas' à Délia e descendentes....

RPM

Lc disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Ricardo Vasconcelos disse...

Excelente post. Sobre os queimados, confesso a minha ignorânica quanto à sua aplicação aos milhafres.

De qualquer modo, o termo é mais do que adequado quando aplicado a algumas franjas do mundo político da região.

Anónimo disse...

Bem, «Paulo», sem dúvida um estilo mais acutilante do que o meu mas interessante sem dúvida. Sim, as hipóteses são várias. A Teoria da Nossa Senhora do Açor tem, quanto a mim, uma vantagem: insere-se numa corrente de pensamento que deu às ilhas o nome de S. Miguel, S.ta Maria e S. Jorge ou porque há uma povoação antiquíssima, da região de onde era natural Gonçalvo Velho, na Beira Baixa, (continente) com o nome Açores. Estes pensamentos não confere mais veracidade à Teoria de Nossa Senhora do Açor mas contribuem para a sua verosimilhança. Um abraço cheio de saudades dos Açores, apesar de há pouco mais de uma semana aí ter estado e tido até a sorte de vislumbrar um par de Águias de Asa Redonda a sobrevoar a lindíssima paisagem de S. Miguel.

Caguei te Mariano disse...

boas... bom, este topico ate comecou bem... mas nao podia deixar de ter o seu "quê" de toque pessoal no fim... mas verdade seja dita, tens muita logica no que dizes e fiquei a saber coisas que nao fazia a minima ideia que era assim... realmente nao tem logica nenhuma ter algo na nossa bandeira que nos é alheio, perde se assim todo o significado de que uma bandeira possa ter... inte

Anónimo disse...

Em S.Miguel também se chamam queimados, ou melhor chamavam-se até há pouco tempo atrás, quando o termo milhafre começo, oficialmente, a impor-se.

Anónimo disse...

Bela ideia!
Já agora porque é que não trocamos o nome da Terceira para Segunda, já que, oficialmente foi a segunda ilha a ser descoberta (já que os descobridores não viram Santa Maria por detrás de S.Miguel). E porque não trocamos S.Miguel para Priôlo, já que é uma ave que não se encontra em mais sitio nenhum!?
E já agora porque não trocamos o nome de Portugal para "semi-romano-semi-mouro"!? Afinal foram as civilizações que contribuiram mais para a nossa cultura e mesmo para a nossa língua.
Deixemo-nos de asneiras, pensar em trocar nomes a sítios é parvo, já nem os índios americanos dão nomes aos filhos segundo o animal que mais perto da tenda no momento em que ele nasceu.
Chamar Açores, Milhafres ou Queimados não faz diferença nenhuma, é um arquipélago português. O nome foi dado, é um nome bonito, é uma ave bonita, se existiu e deixou de existir ou se nunca existiu não interessa. Não tem nada a ver com ser científicamente correcto ou não, é um nome tal como Peru e não me parece que o nome desse país tenha alguma coisa a ver com o facto de terem visto muitos perus quando o descobriram...

Anónimo disse...

Sou de São Miguel e sempre ouvi minha avó chamar essa ave de "QUEIMADO" tal como na Terceira...

Lá pelas bandas de P. Delgada é que são muito "políticos" e gostam de dizer outras coisas....

Unknown disse...

The name of the country (PERU) may be derived from Birú, the name of a local ruler who lived near the Bay of San Miguel, Panama, in the early 16th century. When his possessions were visited by Spanish explorers in 1522, they were the southernmost part of the New World yet known to Europeans. Thus, when Francisco Pizarro explored the regions farther south, they came to be designated Birú or Perú.

Não creio que seja adequado mudar o nome do arquipélago até porque não há razões sólidas para a atribuição do nome (ou mm que houvesse), embora eu pessoalmente me incline mais para a questão das Azzuro... Que seguramente a ave de rapina que voa em São Miguel e noutras ilhas é uma águia de asa-redonda disso não há dúvida (e há mm muitos casais por lá). Mudar um nome justifica-se por exemplo na aldeia da Panasqueira perto de Torres Vedras que mudou o nome para Aldeia de Nossa Senhora da Glória... mas isto compreende-se! :-) Mantenham as ilhas tão bonitas como estão agora e se havia açores ou não, pouco interessa.